4 mitos e 6 verdades sobre ser soldador

4 mitos e 6 verdades sobre ser soldador

Será que a solda causa a impotência sexual dos soldadores? Os olhos podem queimar ainda que uma pessoa não olhe diretamente para a solda? É preciso ter curso superior para se tornar soldador? Essas são apenas algumas das dúvidas que circundam os mitos e verdades sobre ser soldador.

Infelizmente, essas histórias, quando mal respondidas, podem acabar fazendo algumas pessoas desistirem da carreira ou mesmo se colocarem em risco enquanto trabalham.

Então, nada melhor do que esclarecer essas questões de uma vez por todas e compreender melhor a rotina do profissional de soldagem. Aproveite o conteúdo!

Como é a rotina de um soldador?

O soldador é o profissional responsável por unir, revestir ou cortar peças de material metálico, geralmente aço carbono ou outro. Para isso, utiliza diversos processos, equipamentos e consumíveis. Aplica técnicas de aquecimento por arco elétrico ou chama, ou ainda por resistência elétrica e pressão. Estas são as formas, pelo menos as formas mais conhecidas, em que a profissão é exercida.

Existem mais de 60 processos de soldagem e corte, usando diferentes métodos, equipamentos e formas de unir, cortar ou revestir materiais.

O objetivo é tornar as peças seguras o suficiente para serem usadas em diversas aplicações, onde são solicitadas em diversos requisitos, como resistências a tração, torção, cisalhamento, impacto, fadiga, corrosão, atrito (isso tudo em temperatura ambiente, altas ou baixas), entre outras condições críticas de trabalho.

Entre os processos de soldagem mais comuns utilizados hoje na indústria estão:

  • MIG-MAG;
  • TIG;
  • Eletrodo Revestido;
  • Arco Submerso;
  • Arame Tubular, etc.

Além de dominar essas técnicas, o soldador profissional deve dominar o uso de equipamentos como máquina de solda, tocha, maçarico, ferramentas manuais diversas, etc. Deve saber fazer instalação e uso de arame sólido e tubular, instalação e troca dos gases de proteção, fazer manutenção produtiva no sistema alimentador e, é claro, saber utilizar os equipamentos de proteção individual. Dependendo da atividade, existem particularidades para cada tipo de trabalho.

Os soldadores são essenciais no desempenho de sua função nos mais diversos setores existentes na indústria. Apesar da sua participação ser considerada crucial para a indústria de metal, o campo de atuação vai bem além dela, incluindo os setores:

  • petrolífero;
  • petroquímico;
  • metalmecânico;
  • máquinas e equipamentos;
  • naval;
  • construção civil;
  • papel e celulose;
  • nuclear;
  • militar;
  • energia;
  • aeroespacial;
  • automotivo;
  • ferroviário.

Existem impactos na saúde física pela atividade de soldador?

Como em algumas atividades profissionais, o soldador também está exposto a alguns riscos e impactos à sua saúde física, independentemente do tipo de solda usada, seja ele MIG, MAG, TIG, eletrodo revestido ou arame tubular, o processo libera muitos resíduos tóxicos para o trabalhador. Também por trabalhar com materiais em alta temperatura e com a radiação ultravioleta, além de outros riscos como ficar várias horas em posições desconfortáveis durante a realização do trabalho.

Os equipamentos e materiais utilizados também oferecem riscos à integridade física do soldador, podendo causar choques elétricos, explosões, incêndios, quedas, ou outros acidentes. A exposição contínua a ruídos e altas temperaturas, também trazem riscos à saúde, principalmente a longo prazo.

Felizmente, a maior parte desses riscos pode ser mitigada com o uso correto dos equipamentos de proteção individual e coletiva (EPI e EPC), com regras de rodízio e revezamentos, muitos treinamentos e muita conscientização da equipe, além dos cuidados que a empresa pode ter com a manutenção dos equipamentos, adequação às normas de segurança, sinalizações e alertas de segurança, mapa de riscos, etc.

Quais são os mitos sobre o trabalho de soldador?

Como se não bastassem todos estes pontos negativos na segurança e exposição dos soldadores, ainda existem alguns boatos que rondam a profissão e afastam ainda mais os candidatos e aprendizes. Vamos conferir?

1. O soldador pode ficar impotente sexualmente!

Mito. A atividade de solda não afeta a potência sexual do trabalhador. Em certas circunstâncias pode afetar a fertilidade, mas no que diz respeito ao desempenho sexual, não há qualquer relação.

Lembrando que a infertilidade é diferente da impotência. A infertilidade é ocasionada pela baixa atividade dos espermatozoides, que se tornam potencialmente incapazes de fecundar um óvulo. Já a impotência está associada à disfunção do órgão sexual.

2. Soldador que usa máscara não precisa usar óculos de proteção!

Mito. A máscara com filtro de luz é necessária para a proteção do rosto e dos olhos, mas ainda pode deixar o soldador exposto ao risco de ser atingido por respingos de solda, que podem enveredar-se pelas extremidades da máscara e chegar aos olhos. Portanto, é necessário usar os óculos como uma medida extra de proteção.

3. Soldando em ambientes abertos ou bem ventilados, não é necessário usar máscara respiradora!

Mito. A máscara respiradora é fundamental em qualquer ambiente de soldagem, pois pode haver partículas prejudiciais à saúde que se formam durante a soldagem. Essas partículas são provenientes de elementos como o cobre, os fluoretos, o crômio, o magnésio, o manganês, o alumínio e outros que participam da solda. Sem a máscara respiradora, os gases e fumos tóxicos podem ser inalados pelo soldador, mesmo em ambientes abertos. Além do mais, alguns processos de soldagem nem mesmo são recomendados para ambientes abertos e ventilados, como o MIG-MAG e o TIG.

4. Os EPIs são desconfortáveis para o soldador!

Mito. Atualmente os fabricantes de EPIs usam cada vez mais matérias-primas leves, confortáveis, resistentes e processos de alta tecnologia na fabricação, priorizando sempre o conforto do operador/soldador, pois muitos precisam usar estes equipamentos por longas horas. Na grande maioria das vezes em que ocorre algum desconforto é por uso incorreto, tamanho inadequado ou algum detalhe anatômico particular. Se houver desconforto, esse deve ser relatado e tratado junto à área de segurança e medicina do trabalho para adequação.

O que é verdade sobre o que se fala da atividade de soldador?

Agora que já explicamos os mitos acerca da profissão, é hora de conferir o que é verdade se tratando da carreira de soldador.

1. O raio UV da solda pode causar cegueira

Verdade. Nos processos de soldagem MIG MAG, TIG, eletrodo revestido e arame tubular, uma luz de alta intensidade é emitida pelo arco elétrico, denominada ultravioleta (UV). Se o soldador ou outro colega olhar diretamente para o arco terá queimaduras na córnea, a mesma que ocorre se olharmos para a luz solar.

Os UVs causam danos nas pálpebras, córnea, cristalino, conjuntiva e retina.

Algumas das principais lesões a que o soldador fica exposto quando sem proteção ou com proteção insuficiente ao raio UV:

  • Fotoceratite (inflamação da córnea);
  • Fotoceratoconjuntivite (inflamação da córnea e da conjuntiva);
  • Hiperemia (inflamação da pálpebra);
  • Catarata (embaçamento do cristalino);
  • Fotorretinite (danos à retina e degeneração macular);
  • Amaurose (perda da visão parcial ou total) que pode surgir por degeneração da mácula, se a exposição for suficientemente intensa e repetida.

Lembrando que todas essas lesões são evitáveis, desde que os EPIs sejam utilizados corretamente.

2. Pessoas próximas às áreas com operações de soldagem podem sofrer queimaduras na pele!

Verdade. O processo de soldagem pode provocar respingos na área próxima ao objeto soldado. Também os raios ultravioleta são capazes de provocar queimaduras na pele e até nos olhos de pessoas próximas ao local da solda, mesmo que não estejam diretamente envolvidas no processo. Por isso, é de importância fundamental o uso de equipamentos de proteção individual e proteção coletiva para que protejam os transeuntes e trabalhadores de áreas adjacentes à da solda.

Alguns exemplos destes EPIs e EPCs são:

  • paredes antireflexivas;
  • cortinas anti-uv;
  • creme protetor solar;
  • placas de sinalização.

3. Usar lentes de contato em ambiente com operações de soldagem é perigoso!

Verdade. Existem estudos mostrando que lentes de contato absorvem fortemente as radiações infravermelha e ultravioleta, se aquecem e podem ressecar. Também há relatos de trabalhadores que tiveram descolamento de retina por conta desses efeitos. Até que estudos mais profundos possam ser realizados, observam-se as seguintes conclusões:

  • Existe um risco potencial de aderência da lente à córnea, quando em presença de fontes intensas de radiação não ionizante (caso da solda).
  • A NR 34 proíbe o uso de lentes de contato nos trabalhos chamados “a quente”, com o objetivo de aumentar a segurança do trabalhador.

4. As queimaduras oculares podem ocorrer mesmo sem olhar diretamente para a solda!

Verdade. As queimaduras não acontecem só pela incidência dos raios caso o soldador ou outra pessoa olhe diretamente para a solda. Nesse caso, o potencial agressor do ultravioleta é tão intenso, que ainda que o soldador não olhe diretamente para o arco elétrico, os riscos continuam existindo se a luz do arco atingir o seu rosto e os olhos. Irá queimar a pele e a córnea, sendo sentidos os sintomas depois de algumas horas.

5. O raio da solda pode matar o vírus da Covid-19

Possível verdade. O UVC pode inativar muitos microrganismos, inclusive vírus e bactérias, impedindo-os de se reproduzirem, devido à sua capacidade de degradação do material genético do vírus (RNA). No caso da Covid 19 os estudos ainda são recentes e o UVC em breve será aplicado como mais uma estratégia preventiva, complementar a outras como higienização das mãos e uso de máscara. Contudo, essa é uma teoria perigosa de se afirmar ainda, já que poderá levar as pessoas a se basearem nessa informação e ignorarem os outros riscos da exposição excessiva ao ultravioleta como as lesões nos olhos e na pele. 

6. O trabalho com solda pode causar infertilidade

Verdade. Com a falta de uso adequado do EPI (avental de raspa) e com a elevação da temperatura corporal, isso pode ser verdade, como nos casos em que os soldadores trabalham agachados sobre o objeto soldado. O mesmo vale para outras atividades que também aumentam a temperatura na região dos testículos, como o uso do notebook no colo ou o trabalho por muito tempo sentado, com aumento da temperatura na região genital. Existem estudos mostrando que a exposição ao calor tem efeito negativo no DNA dos espermatozoides, sendo recomendado que os testículos sejam sempre mantidos a uma temperatura abaixo dos 34°C para uma reprodução saudável (Por isso são externos ao corpo, a natureza é perfeita!).

Portanto, o trabalho em temperatura elevada é prejudicial para a saúde masculina e, consequentemente, pode causar infertilidade, se não forem observadas as condições de segurança.

No entanto, todos os riscos existentes na profissão de soldador podem ser reduzidos e até excluídos se você usar o equipamento de proteção certo e manter as orientações quanto às posições de trabalho e à ergonomia, por exemplo. É claro que, para isso, você e a empresa devem cumprir com os cuidados devidos.

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